Dra. Erica Maia Alvarez
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Quais são as etapas do atendimento psiquiátrico?

A psiquiatria é uma especialidade médica. Assim como nas demais especialidades, o objetivo do cuidado é diminuir o sofrimento do paciente. Para alcançar esse objetivo, o psiquiatra utiliza uma série de ferramentas. Vamos entender mais sobre isso!

A primeira consulta de psiquiatria é um momento fundamental para compreender as nuances do sofrimento com a maior profundidade possível. Por esse motivo, essa avaliação costuma levar mais tempo do que as demais consultas, mas isso não é a regra. Durante esse momento, o paciente tem a oportunidade de compartilhar sua história e seus sentimentos em um ambiente seguro e acolhedor. O psiquiatra, por sua vez, utiliza sua expertise para oferecer um suporte integral, considerando tanto os aspectos biológicos quanto os psicológicos e sociais do sofrimento.

O atendimento psiquiátrico começa com uma entrevista detalhada com o paciente. Essa entrevista é fundamental para que o médico compreenda a sua história, seus sintomas e como esses sintomas afetam sua vida diária. Durante a entrevista, o médico realiza o Exame Psíquico, que é uma avaliação cuidadosa para identificar quais fenômenos mentais podem estar comprometidos e associados ao processo de adoecimento.

Alguns fenômenos avaliados incluem: consciência, aparência, postura, expressão facial, motricidade, pensamento, discurso, humor, afeto, comportamento social e aspectos relacionados à vontade.

No caso do discurso, por exemplo, o psiquiatra avalia algumas características como espontaneidade, latência, quantidade, ritmo, velocidade, articulação, modulação, prosódia, compreensão da linguagem, fluência, direção e riqueza das associações. A depender da alteração identificada, pode sugerir um outro diagnóstico.

Além do exame psíquico, em alguns casos, pode ser necessário o exame físico ou neurológico e, em situações específicas, exames de sangue ou de imagem.

Após coletar as informações clínicas relevantes, o psiquiatra formula hipóteses diagnósticas para identificar possíveis doenças ou transtornos (ou mesmo a ausência deles). Essa etapa é importante porque direciona um plano terapêutico assertivo.

Devido à natureza multifacetada dos transtornos mentais, é comum que os diagnósticos e tratamentos sejam continuamente revistos e ajustados conforme necessário. As doenças se comportam de forma diferente em diferentes pessoas, pois cada um de nós possui uma série de facetas em sua vida pessoal que interferem na manifestação dos sintomas e na reação ao tratamento proposto, incluindo base biológica, personalidade, padrões de pensamento, cultura, espiritualidade e ambiente social. Além disso, uma pessoa pode ter mais de um diagnóstico ao mesmo tempo.

Outra particularidade do processo diagnóstico é a necessidade de descartar causas orgânicas. O que isso significa? Diagnósticos em psiquiatria são, em muitos casos, diagnósticos de exclusão. Isto é, só é considerado mental se não houver uma causa física. 

Assim, o médico psiquiatra precisa descartar a probabilidade de que o quadro de sintomas seja, na verdade, uma doença somática (do corpo) se comportando de forma semelhante a um transtorno puramente mental. Isso é crucial porque doenças físicas não diagnosticadas podem levar a uma perda importante da integridade física do paciente, podendo inclusive ser fatais, o que é menos comum de acontecer na psiquiatria. 

Curiosidade: existem medicamentos usados para tratamento de doenças físicas que podem causar sintomas semelhantes a transtornos mentais; uma vez realizada a troca do medicamento, o transtorno mental tende a cessar nesses casos. Por isso uma história completa é tão importante.

Diante de todas essas nuances, o psiquiatra avalia quais ferramentas ou procedimentos mais irão ajudar o paciente a obter o resultado desejado, que normalmente é a melhora da qualidade de vida. Essas ferramentas podem incluir:

  • técnicas específicas de entrevista
  • acolhimento
  • orientações gerais e específicas
  • psicoeducação
  • psicofarmacoterapia (medicamentos)
  • psicoterapia
  • terapias complementares.

Se for optado pelo uso de medicamentos, o médico deve orientar sobre possíveis efeitos colaterais, o tempo previsto do tratamento e o que se espera da medicação.

Pode beber?

Uma pergunta comum dos pacientes é se é possível consumir álcool durante o tratamento.

Como regra geral, o álcool não deve ser consumido.

Isso porque ele interfere com o metabolismo de alguns medicamentos, aumenta o risco de sedação (sonolência e eventual parada respiratória) e também pode alterar a própria apresentação e evolução dos transtornos mentais (os sintomas e o resultado do tratamento podem mudar).

Isso tudo, claro, depende da quantidade de álcool ingerido, de qual medicamento está sendo utilizado (e em qual quantidade) e da forma em que houve a interação (mistura) entre as duas substâncias.

A impossibilidade de beber não deve ser um impeditivo para iniciar ou manter o tratamento.

A relação com a bebida, em última instância, deve ser discutida com seu médico para se entender os caminhos possíveis e seguros a se perseguir considerando o contexto pessoal da sua vida e da sua saúde.

Os medicamentos viciam?

Outra dúvida comum é se os medicamentos viciam. A grande maioria dos medicamentos não tem risco de dependência, mas medicamentos de receita controlada (tarja preta) podem causar dependência sim, por isso o uso deve ser bem indicado e o acompanhamento muito próximo. Doses baixas, com desmame precoce, diminuem bastante o risco de dependência. 

Algumas pessoas sentem mal-estar quando retiram o medicamento que vinham fazendo uso (para eventual suspensão ou troca) e atribuem esse mal-estar a uma abstinência. O nome desse quadro, na verdade, é Síndrome de Retirada e representa apenas uma readaptação do organismo à retirada do medicamento; ela tende a melhorar em até 10 dias e os sintomas apresentam um quadro mais leve, além de não acompanhar fissura, que é o desejo de voltar a usar o medicamento (no caso da abstinência real).

Quando tempo dura o tratamento?

A duração do tratamento varia de acordo com a condição do paciente e a resposta ao tratamento. Pode durar de alguns meses a vários anos. Nem todos os pacientes precisam de medicamentos a longo prazo. Alguns podem usá-los temporariamente até que os sintomas sejam controlados, enquanto outros podem precisar de tratamento contínuo por tempo indefinido.

Para as doenças mais comuns, em média, um tratamento inicial bem-sucedido para um caso leve, que o paciente aderiu conforme orientação, principalmente se combinado com psicoterapia e mudanças do estilo de vida, pode durar entre 6 a 9 meses.

Todos os medicamentos têm potencial para efeitos colaterais, mas o psiquiatra trabalhará com o paciente para encontrar a medicação mais adequada com o menor impacto negativo.

Importante: Nunca interrompa o uso de medicamentos sem antes consultar o psiquiatra. Parar abruptamente pode causar sintomas de retirada, agravar a condição clínica e tornar mais difícil a resposta ao novo tratamento.

Muitos pacientes chegam à consulta psiquiátrica com medo ou incerteza sobre o que esperar. Desmistificar esse processo é essencial para que os pacientes se sintam mais confortáveis e confiantes em buscar ajuda. A consulta psiquiátrica é um espaço de acolhimento, escuta e cuidado. O psiquiatra está ali para ajudar, sem julgamentos, buscando sempre o bem-estar do paciente. Se você ou alguém que você conhece está considerando uma consulta psiquiátrica, lembre-se de que o objetivo é proporcionar alívio e melhorar a qualidade de vida. A psiquiatria é uma área rica em conhecimento e recursos, pronta para oferecer o suporte necessário para enfrentar os desafios da saúde mental.

É extremamente comum o médico solicitar uma entrevista com um acompanhante. O acompanhante pode ser um familiar, um amigo, um colega, qualquer pessoa que conviva com o paciente e seja da sua confiança. O objetivo dessa entrevista é aumentar a precisão diagnóstica e a assertividade do tratamento. Isso porque o acompanhante é uma fonte adicional de dados, oferecendo uma perspectiva externa, o que é extremamente valioso ao explorar questões relacionadas ao comportamento.

A entrevista também oferece um espaço para orientações gerais e psicoeducação do acompanhante. A psicoeducação é uma ferramenta de orientações específicas sobre saúde mental. Esse recurso pode colaborar com o fortalecimento da empatia e do vínculo entre o acompanhante e o paciente, além de ajudar a melhorar a adesão do paciente ao tratamento, fator fundamental para a melhora do quadro.

Vale lembrar que o médico é obrigado ao sigilo de tudo que conversa com o paciente, não podendo expor nada do que foi discutido durante o atendimento, salvo situações excepcionais como exposição à risco contra a vida. Essa obrigação é um dever legal do médico previsto no Código de Ética Médica (Art. 102) e também no Código Penal (Art. 154). É importante destacar que essa proteção também se aplica a menores de idade.

📜 Art. 74: “É vedado ao médico revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente“.

Curiosidade: 🔒 Você sabia que o sigilo dos dados contidos no seu prontuário médico deve ser preservado inclusive após a sua morte? A obrigatoriedade sobre o sigilo nunca desaparece.

Não.

A mente é parte do ser humano e, como qualquer parte do ser humano, pode adoecer.

Assim como ter diabetes ou pressão alta não é sinal de loucura, fraqueza ou mau-caratismo, ter algum transtorno mental também não é.

Para sanar ainda mais dúvidas, acesse a seção de perguntas frequentes clicando aqui.

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